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O Mentiroso

Este Projeto é o resultado de uma parceria entre o PERFORMA e a Cia da Ilusão. Sinopse do espetáculo. Um homem preenche o seu cotidiano solitário com fantasias que dão um brilho inusitado aos acontecimentos mais banais. Uma ruptura desse processo é desencadeada pelo aparecimento de uma mulher. Permeado por uma tensão crescente entre o verdadeiro e o falso, esse encontro revelará perigosas descobertas e mudanças de percurso.

 

Entrevista feita com o diretor Matteo Bonfitto

1. Descreva – conceitualmente – o espetáculo “O mentiroso”?

“O Mentiroso” é um espetáculo que pretende provocar uma reflexão sobre a verdade e a mentira, sobre as tensões que existem entre essas duas dimensões existenciais em diferentes níveis. Assim, vários aspectos serão tratados, desde ética, política e religião, até o auto-conhecimento e o amor.  O ilusionismo, então, cumpre um papel importante nesse caso, porque torna mais evidente essas tensões.

2. Como foi o trabalho de ressignificar números clássicos do ilusionismo?

Antes do trabalho de ressignificação, acho que é importante dizer que o ilusionismo sempre me fascinou, devido a sua capacidade de relativizar o que pensamos saber. Quando iniciamos esse trabalho, eu e o Ismael de Araújo, esse imaginário veio à tona de um jeito muito forte e prá mim ele foi um suporte que possibilitou essa ressignificação. Acho que para dar novos sentidos a alguma coisa é preciso ao mesmo tempo estar distante e próximo dessa coisa. Foi isso o que aconteceu nesse caso.

3. E a dramaturgia? Qual foi o caminho desde o primeiro olhar sobre o texto do Cocteau?

Iniciamos com a leitura do texto de Cocteau, mas aos poucos vimos que era preciso alargar o horizonte da personagem. Na versão de Cocteau as questões se restringem ao universo dela. Já na nossa versão inserimos a relação com uma mulher – real ou imaginária? – que revela outras facetas da personagem. De qualquer forma, os estímulos produzidos pelo texto de Cocteau permanecem como aspectos que permeiam os processos interiores da personagem masculina, sobretudo nos momentos de maior fragilidade emocional.  Além da parceria com Bianca Zanatta, que está escrevendo o texto, a colaboração com o Ismael e com a Fernanda Belinatti tem sido fundamental para a construção da dramaturgia. É um trabalho real de equipe.

4. Por que a escolha da discussão sobre a Verdade e Mentira?

Em primeiro lugar porque é uma discussão profundamente humana, que vai além das classes sociais e das culturas. É uma discussão portanto que pode produzir uma grande ressonância. Considerar algo como sendo verdade ou mentira está muitas vezes relacionado com o próprio ponto de vista. Além disso, por outro lado, acho que vivemos em um momento no Brasil em que essa discussão é mais do que necessária, não somente em função dos escândalos políticos, mas em função de uma reflexão sobre nossa própria identidade.

5. Fale da sua proposta de encenação.

Apesar da utilização de alguns equipamentos de ilusionismo, estamos buscando uma encenação limpa, quase minimalista. O espaço sugere ao mesmo tempo um apartamento, dele, e um espaço onírico, onde o imaginário do espectador pode se infiltrar a completar as sugestões a partir da própria subjetividade.

6. E a música? Como se constrói esse tripé teatro/ilusionismo/música no espetáculo?

A música nesse caso não tem uma função decorativa, de construção de atmosferas. Em vários momentos ela tem como objetivo materializar os processos interiores da personagem masculina. Da mesma forma, o violoncelista que aparecerá no canto da cena não será simplesmente um musicista mas funcionará como uma espécie de espelho da personagem masculina, e é em função de tal fato que o figurino usado por eles será o mesmo. Sendo assim, podemos dizer que se trata aqui de um tipo de teatro-musical-ilusionista que busca fundir as três linguagens de diferentes modos.

7. Fale da “desespetacularização” do número de mágica: aonde queremos chegar?

Desespetacularizar o número de mágica significa antes de tudo uma estratégia de ampliação de suas possibilidades expressivas e artísticas. Mais do que uma mera demonstração de habilidades, podemos perceber que um número de mágica pode ter uma potência metafórica surpreendente.

Ficha Técnica

Elenco: Fernanda Belinatti, Ismael de Araújo, e Matteo Bonfitto (0ff Peixe)

Texto: Bianca Zanatta, inspirado no texto homônimo de Jean Cocteau

Violoncelista: Boaz de Oliveira

Iluminação: Beto Christo

Coreografia e Preparação Corporal: Gisela Dória

Direção Geral: Matteo Bonfitto

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